quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O Guitarrista - Victor Cavalcante



VICTOR CAVALCANTE, mais conhecido como Risada em Outubro de 2009, participou de sua 4º apresentação na Expomusic em São Paulo e também este ano participou do quadro "você faz o show" no Programa do Raul Gil, apresentando um estilo musical diferenciado ( música clássica na Guitarra). O blog Rock com Café conversou com o músico para saber um pouco mais sobre sua trajetória no mundo do rock.


Quando você começou a estudar guitarra?
 Eu tinha 11 anos de idade, quando o meu tio Clelio me presenteou com um disco do Raul Seixas para ouvir. Aquele momento simplesmente mudou a minha vida. Ele começou a me explicar o significado das letras, me disse também que existia uma ditadura que censurava a liberdade artística e que essa por sua vez denunciava e criticava os abusos do governo militarista. Eu achei aquilo que o Raul fazia o máximo. Hoje, tendo um panorama melhor da situação, percebo que o que me seduziu não foi apenas a músinuma música do Legião Urbana, que era ... "são crianças como você, o que você vai ser quando você crescer?". Essa pergunta gerava um certo pânico em mim, eu ficava pensando "meu Deus, tenho 11 anos, o que vou ser quando crescer?rs "  Mas isso mudou no momento em que ouvi aquele disco do Raul, daquele dia em diante passei a ter certeza do que eu realmente queria para a minha vida e não pensava em mais nada que não fosse música. Foi por isso que comecei a estudar guitarra.

Onde aprendeu os primeiros acordes na guitarra?
Para falar a verdade os meus primeiros acordes foram no violão. Quando eu tinha 13 anos conheci uns caras que adoravam heavy metal, e logo nos tornamos amigos. Com eles passei a conhecer bandas novas. O primeiro disco de rock com guitarra distorcida que ouvi na minha vida foi o Road to Ruin dos Ramones, que um punk da minha rua me empresentou, ouvia aquilo no talo! Na escola eu andava com os roqueiros, e uma vez um amigo, o Pita, me emprestou o Paranoid do Black Sabbath e o Come Hell Or High Water do Deep Purple, entrei em choque! Nunca tinha ouvido um som daquele jeito, foi um tapa na cara! Assim nasceram os meus primeiros ídolos da guitarra, Tony Iommi e Ritchie Blackmore.
No dia seguinte comecei a tentar tirar todos os solos e riffs do Paranoid e a traduzir todas as letras. Havia muita coisa que eu não conseguia tirar, mas graças a Deus sempre tinha um amigo que sabia um riff que eu não sabia e eu tinha que implorar muito para que me ensinasse, rs. Um dia um amigo meu, o Rafael, me falou de uma escola de música que ensinava violão de graça, dai meu tio me levou lá para fazer a matrícula, mas só comecei a fazer aula depois de seis meses porque não havia mais vaga. Foi bom ter estudado lá por um tempo porque eu convivia com pessoas que tocavam e que gostavam quase que das mesmas coisas que eu. Essa escola promovia alguns festivais de violão, que foram importantes para mim porque foi por meio deles que descobri a existência de algumas revistas especializadas em guitarra, como a Guitar Player e a Guitar Class. Dai passei a comprar as revistas todo mês para tirar as músicas transcritas. Aprendi os meus primeiros acordes na rua com os amigos e depois com as revistas. Quando eu tinha 15 anos o meu sonho era fazer aula no IG&T com o Mozart Mello, aos 16 anos  meu sonho se tornou realidade e tive aulas de guitarra com o Silas Fernandes, Marco Angi, Fabio Santini, Marcio Okayama e na especialização de fusion com o mestre Mozart Mello, lá fiz também aulas de linguagem e estruturação musical com o Ednilson Lazari, estudei no IG&T por quatro anos e isso mudou a minha vida, não só no que diz respeito à música, mas como também na forma de ver o mundo. Na época em que estudava com o Mozart fiz teste para a U.L.M. e lá estudei com o Marcelo Munari. Posso dizer que ter tido aula com o Mozart Mello e com o Ednilson Lazari gerou uma revolução no meu jeito de pensar em música, foi essencial.

Quais foram e quais são suas inpirações?
No começo eu me inspirava em quase todas as bandas inglesas da decada de 70, acho que a principal foi o Black Sabbath. Sempre ouvi muito Deep Purple, Jethro Tull, The Who, Free e Beatles. Mas com o passar do tempo, fui conhecendo coisas novas, quando ouvi Iron Maiden pela primeira vez quase tive um orgasmo. Nessa fase comecei a gostar mais de Heavy Metal, ouvia muito Mercyful Fate e Halloween. Teve um tempo em que eu só ouvia Jeff Beck, Johnny Winter, Jimmi Hendrix, Yngwie Malmsteen e Steve Morse. Acho que a vida é feita por fases e é natural que depois de você ouvir o som de uma banda por muito tempo você se sinta meio saturado e procure algo novo e diferente. Houve uma mudança drástica no tipo de som que eu costumava ouvir depois que comecei a estudar no IG&T, pois lá conheci os melhores músicos da América Latina e sempre tentava sugar alguma coisa deles para eu acrescentar na minha bagagem musical. Eu vivia perguntando o que era bom para ouvir e tocar, o Wander Taffo por exemplo, me mostrou uma banda americana chamada Cactus, através do Mozart Mello conheci o Mahavishnu Orchestra, e depois de algum tempo descobri que essa banda foi a inspiração para o Steve Morse ter montado o Dixie Dregs. Uma vez o Michel Leme me disse que não era bom ouvir apenas guitarristas, disse que também era bom ouvir outros instrumentistas, e então fui ao sebo fazer umas compras e encontrei um Real Book de Jazz de um pianista chamado Thelonious Monk, como eu nunca tinha ouvido falar fui perguntar ao Michel se o cara era bom, a resposta foi que ele era extraordinário, e então na semana seguinte ele me trouxe uma sacola com dez discos do Monk para eu escutar, e eu adorei. A partir dai comecei a ouvir mais Jazz e música brasileira, o meu preferido é o Hermeto Pascoal e o próprio Michel Leme. Hoje em dia eu ouço de tudo, adoro chorinho do Pinxinguinha e o baião do Luiz Gonzaga, acho que ninguém escreve letra melhor do que o Chico Buarque e acho que o Tom Jobim não compõe musica e sim obra de arte. Aprendi que não existem estilos mas sim dois tipos de música, a boa e a ruim, eu ouço a boa. Tem musico que não tem o que dizer e acaba falando merda, vivem criticando as bandas mais simples, principalmente as de rock, nunca pararam para refletir que um som simples é uma ponte para um som mais elaborado. É raro alguém começar a escutar música ouvindo John Coltrane, pois esse tipo de som é muito complexo para um ouvinte iniciado que não sabe nem qual é a diferença entre o som de uma guitarra e de um baixo. As pessoas não gostam do que não conseguem compreender, é fácil fazer uma analogia com a matemática por exemplo, pergunte a dez pessoas se elas gostam de matemática, as que responderem que não gostam, na verdade não é que não gostam, a verdade é que não compreendem. O mesmo acontece com a música, normalmente o cara começa ouvindo algo mais simples, que ele consiga compreender e com o passar do tempo vai lapidando o gosto e passa a gostar de coisas mais bem elaboradas.
Não é por que eu ouço Miles Davis que eu não vou escutar Slayer, muito pelo contrário, ouço as coisas que sempre ouvi até hoje e só tenho a acrescentar.

 Este ano,você, junto com dois amigos guitarristas, participaram do quadro "você faz o show " no programa do Raul Gil, na BAND. mostrando algo bem diferente para um programa considerado popular. Vestidos de DARTANHANS, tocando clássicos como a 5º Sinfonia de Bethoven na guitarra.Como surgiu essa idéia, e como foi participar deste quadro?
Engraçado você me perguntar isso, é muito interessante como algumas coisas significativas acontecem quando você menos espera. A história foi a seguinte:
Eu estava em casa, nas férias, estudando progressão aritmética, e de repente o meu celular começa a tocar. Pois bem, era o Fabio Augusto, que tocava teclado no Rádio Taxi. Ele me disse que estava trabalhando na parte do áudio no programa do Raul Gil e que a produtora do programa fora lhe perguntar se ele conhecia alguns guitarristas. Tudo isso porque o Raulzinho, diretor do programa, tinha visto um video no youtube de uns caras tocando música clássica na guitarra e queria o mesmo no programa dele. Dai ele me ligou para perguntar se eu queria tocar, e pediu para eu chamar mais dois guitarristas, aceitei, e então chamei o Cauê Leitão e o Claudio Russo, pois além de serem bons músicos, são também meus amigos o que facilita muito a convivência.
O programa era gravado na terça-feira, e abrimos mão de muitas coisas para podermos gravar toda semana, pois todos têm a sua vida. Tudo na vida tem as partes boas e as não tão boas assim, foi bom porque foi uma experiência nova para todos nós, até já tinhamos aparecido em alguns programas de TV, mas nunca em rede nacional e em semanas consecutivas. Além disso nos divertiamos muito nos ensaios e durante algumas partes da gravação. A parte não tão boa é que como tocavamos só músicas eruditas acabava sendo muito trabalhoso ter que aprender a toca-lás num prazo de menos de uma semana, isso era exaustivo, eu mesmo cheguei a ficar seis horas por dia tirando uma música durante a semana inteira para no dia da gravação ela não estar saindo perfeita. Pois a linguagem da música erudita é muito distante da linguagem da música popular, as frases nem sempre são complexas, mas o grande problema é decorar as partes, já que na maioria das vezes elas elas são escritas para piano ou violino. Além do tempo para tirar as músicas que era curto, no dia da gravação tinhamos que chegar às 13h para passar o som, trocar de roupa, fazer a maquiagem e uma série de coisas que depois de um certo tempo, meio que enche o saco. Normalmente saiamos da Band depois das 10h da noite, sendo que na maior parte do tempo ficavamos sem fazer nada, apenas esperando nos chamarem para frente dos holofotes. Mas nós adoramos ter participado, foi uma experiência nova e muito divertida.

Vocês continuam com os DARTANHANS?
Sim, tocamos no mês passado num evento chinês para mais de 1500 pessoas. E no próximo dia 8 tocaremos num evento beneficente, para as crianças com câncer.

 
Você já participou de quatro Expomusic. Como surgiram essas oportunidades e qual a importância de um evento como este para um músico?
Foi numa tarde de outono, rs... Eu estava na sala de estudos do IG&T, quando o Kiko Muller (vocalista do Golpe de Estado) deu um puta berro: Ô RISADA!!!! A principio pensei em dizer "seja lá o que for vou dizer que não foi minha culpa" rsrs. Me chamou até a sala da diretoria do IG&T, onde ficava o Wander Taffo e o Célio Ramos. E então o Célio disse que o diretor de marketing da Pride Music, tinha acabado de ligar para perguntar se eles não tinham alguém para tocar no Stand na Expomusic, perguntaram se eu queria e eu aceitei antes que ele terminasse a frase. Na Expo o Célio me apresentou para o Charlie, diretor das guitarras Eagle, e naquele primeiro ano toquei no stand da Eagle e no da Pride. Isso foi em 2006, e nos anos seguintes continuei tocando na Eagle e consegui um patrocínio.
Tocar na expomusic só lhe tráz coisas boas, pois além de você conhecer muita gente que toca você acaba mostrando a "cara", o que é muito importante para um músico. Sempre consigo alguns alunos depois da expomusic, tenho alunos quinzenais que me viram tocando lá e que percorrem uma distância aproximada de 80 km para vir e 80 km para voltar só para ter aula comigo.

Você também chegou a tocar com alguns famosos. Quem foram eles e como foi essa experiência?
A primeira vez que eu toquei com os famosos, rs, foi em 2005, o Kiko Muller participou do festival de canto do IC&T e trouxe uma super banda! O Paulo Zinner na bateria o Daniel Latorre no Hammond e eu na guitarra, foi uma experiência incrivel!
Certa vez num WoodsKika (festa de aniversário) os convidados eram uns caras bem barra pesada! Me lembro de alguns como o Kiko Loureiro, Michel Leme, Kiko Muller, Paulo Zinner e Daniel Latorre, tocamos a noite inteira e teve uma hora que tocamos War Pigs do Black Sabbath com o Kiko Muller no vocal, Paulão no baixo, Kiko Loureiro na bateria, e eu na guitarra. Uma outra vez eu estava assistindo o workshop do Edu Ardanuy no Guitar Player Festival realizado na EM&T, no fim do workshop sempre rola uma canja, e pra minha surpresa me chamaram pra tocar nessa canja! Me lembro de todos os guitarristas que estavam no palco e a ordem, rs. No sentido horário: Joe Moghrabi, Edu Letti, Cris McCarthy, Edu Ardanuy e eu, foi fantástico! O bom desses momentos é que você percebe que você não toca muita coisa e que ainda tem muito o que aprender.

No atual momento, você faz parte de alguma banda, algum projeto?
Sim, além do Tomate Inglês, tenho um projeto em andamento com uma banda de Heavy Metal. Ainda não temos todos os integrantes, mas já começamos a fazer as composições. Por enquanto a banda sou eu e o Cauê Leitão nas guitarras e o Francis Lima na bateria, estamos procurando um baixista e um vocalista. A idéia é de até o final de 2010 termos oito músicas prontas para então começarmos a divulgar o trabalho da banda.

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